Paulo Leminski: Edifício São Bernardo

Alguns meses após seu casamento com Nevair Maria de Souza, em 1965, Leminski se mudou com a mulher e a sogra para o Edifício São Bernardo, que ficava no centro da cidade. O prédio foi residência do poeta por um período de 3 a 4 anos.

Os primeiros meses foram bastante movimentados para os Leminski, tanto que, após dois meses morando com o casal, Dona Marina, mãe de Neiva, se mudou dali. O novo apartamento era no mesmo prédio, no terceiro andar, o suficiente para ela ficar longe da delirante rotina do primeiro andar. A partir de então, o apartamento seria apenas do casal, pelo menos a princípio. Para celebrar o acontecido, uma grande festa foi organizada no local, que contou com muitos “futuros” frequentadores assíduos do apartamento.

Na época, Paulo Leminski trabalhava dando aula em cursinho, o que lhe rendia um bom salário. Um dos primeiros amigos/moradores a frequentar o local foi Ivan da Costa, um catarinense que havia conhecido Leminski há poucos dias. A sintonia musical entre os dois foi o suficiente para Paulo considerá-lo um grande amigo. Pouco tempo depois, um novo nome entraria para o grupo, Lélio Sottomaior Jr.. Apaixonado por cinema, fez despertar o interesse de Leminski pela sétima arte. Essas novas amizades deram início a “magia” do São Bernardo, que unia farra a importantes atividades intelectuais.

Quando Paulo começou a praticar Judô, Neiva passou a se sentir abandona pelo marido. O poeta vivia longe de casa e, por conta disso, um confuso relacionamento entre Neiva e Ivan nasceu. No começo, os dois mantinham a relação somente no Edifício São Bernardo, mas, quando Neiva engravidou, isso não era mais possível. Segundo a biografia do poeta, Paulo não ficou chocado com a relação dos dois, aparentando defender a liberdade sexual de cada um. A obra afirma que os três sabiam que o verdadeiro pai da criança era Ivan, mas, para manter as aparências, o poeta assumiu e registrou a criança. O nome escolhido era o mesmo do “pai” e do “avô”, Paulo Leminski Neto – a criança ficaria conhecida como Kiko.

No aniversário de Paulo Leminski, em 24 agosto de 1968, uma nova pessoa entraria para a rotina do São Bernardo. Trazida por uma ex-aluna e amiga do poeta, Alice Ruiz foi apresentada a Paulo e, após algumas horas de conversa, logo se deram bem. No dia seguinte, Alice foi visitar o “novo amigo” e, a partir disso, começaram um longo relacionamento. A “confusão” estava formada: no apartamento, moravam Paulo, a “mulher” Neiva, o “amigo” Ivan, o “filho” Kiko e sua nova namorada, a Alice. Isso sem contar os visitantes/moradores que sempre estavam pela sala.

A lista de intelectuais e artistas que visitaram o Edifício São Bernardo é bastante grande. Paulo Vítola, Paquito, Christo Dikoff, Antonio Carlos Kraide, Julinho Karatê, o irmão Pedro Leminski, Eduardo Portela, Carlos João, Wilson Bueno, o “hippie” Olavo e muitos outros. O local era um reduto de novos pensadores, que seriam responsáveis por várias contribuições artísticas e ideológicas na cidade.

O período morando no edifício da Alameda Dr. Muricy acabaria em julho de 1969, quando a “comunidade” resolve se mudar para o Rio de Janeiro. No inicio, partiram para a cidade maravilhosa Paulo, Ivan, Neiva e Carlos João. Nos primeiros meses, Alice ficou em Curitiba, já que uma semana antes havia dado à luz a Miguel Angelo Leminski, primeiro filho do casal. Tempo depois, Alice também foi embora para o Rio.